sexta-feira, janeiro 18, 2013

Depois da madrugada

    Já tive vinte anos.
    Os lençóis já não me envolvem como antes, estão ao chão, silenciosos. Em algum segundo frio e calmo faltou carga para o Facebook, e da música não guardei o último verso. Quando enfim adormeço. Mergulhando no mistério do meu ser. Passo a não mais contar as horas...
    O tempo agora desagrada. Algo quebra o silêncio de outrora e renasço. Lá fora o ar derrete o que toca, consegue por um segundo atingir minha pouca saliva, fazendo-me sentir o peso da madrugada descer-me goela abaixo.
    Então é outro ciclo e o relógio marca meio-dia. As cores estão de volta. A arte me desperta lentamente em ínfimas visões. Tão logo sento-me na cama e deparo-me por fim com uma grande infelicidade, um medo esmagador que insiste em perseguir-me. Ele finalmente deságua das corredeiras da irresponsabilidade, da incerteza, da fraqueza, da desesperança. Atinge o mais complexo feito e se instala. Minha mente agora está tomada por dúvidas que vão além da porta do meu quarto bem a minha frente. Acordar com vinte e dois anos nunca foi tão desorientadamente assim. Inspiro. Encontro mais saliva. Expiro.
Sinto novamente forças tão intensas como os raios lá fora, tomo meus calçados e abro a porta.  
    Estou de volta. Saio de um sonho para entrar na história.

   

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