terça-feira, agosto 07, 2012

15 de abril

Resolvi perguntar a data de seu aniversário. Ele havia dito que há doze anos não ganhava presentes. Ganhou uns quatro... corrigiu. É morador de ruas frias e perigosas. Quentes e escaldantes tardes de mãos ocupadas, vagarosas pela busca de algo. No lixo de alguém.
Desacreditado pela família, integra o grupo da grande massa dos excluídos da sociedade. Dominado por vícios sórdidos, vaga pela margem da vida.
Foi uma despedida.
Como o conheci não venho explicar, apenas surgia, com um olhar de quem não pertencia àquele grupo, despertando em mim uma curiosidade. Estava apenas de passagem em meu caminho. Ou eu no dele.
E que chegou ao fim.
Uma vez, de cabeça quente, me disse que não sabia ler. Nem se importava mais em pensar, pois
claro que sabia. Outro dia chega minhã mãe com um livro muito lindo, a bíblia. Ele não hesita em querer abri-la e faz questão de ler, pausadamente. Seus olhos brilham. Lembra talvez da mãe do outro lado da cidade?
Dona Socorro tem uma voz firme. Falei com ela marcando um encontro, a pedido do filho, Gilvan, que apresentara-se Tatuado. Ele se foi. Foi tentar vencer o vício, longe do meu alcance. Concluiu dizendo que Deus tem algo novo para ele. E eu acredito.
Um novo amigo.
Que não reclamava da vida.
Sorria.
Esperava com o brilho no olhar
a virada.


Ainda que haja noite no coração, vale a pena sorrir para que haja estrelas na escuridão.
Arnaldo Alvaro Padovani

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