segunda-feira, janeiro 31, 2011

Se...


Se és capaz de manter a tua calma quando todo mundo em redor já a perdeu e te culpa,
de crer em ti quando estão todos duvidando, e, para esses, no entanto, achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares, ou, enganado, não mentir ao mentiroso. Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, e não parecer bom demais, nem pretencioso;

Se és capaz de pensar- sem que a isso só te atires;

De sonhar- sem fazer dos teus sonhos teus senhores;

Se, encontrando a desgraça e o triunfo, conseguires tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas em armadilhas as verdades que disseste e as coisas, porque deste a vida, estracalhadas, e refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada tudo quanto ganhaste em toda a tua vida, e perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida;

De forçar coração, nervos, músculos, tudo. A dar seja o que for que neles ainda existe, e a persistir assim quando, exausto, contudo, resta a vontade em ti, que ainda ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes;

E, entre reis, não perder a naturalidade...e de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes;

Se a tosos podes ser da alguma utilidade;

E se és capaz de dar, segundo por segundo, ao minuto fatal todo o valor e brilho:


Tua é a terra como tudo o que existe no mundo,

E, o que ainda é muito mais- és um homem, meu filho.




Rudyard Kipling

domingo, janeiro 30, 2011

Tudo.

Aquilo já havia se tornado um grande modismo no lugar em que não havia fronteiras. Todos queriam ser.
O número dos que eram e dos que foram só aumentava. Mesmo os que já foram queriam ser de novo.

Então um perguntou a tudo se poderia ir também. Tudo resolveu aplicar-lhe como era a experiência, antes que provasse.

_ No lugar em que há fronteiras, os sentimentos se confundem. Lá não terás controle sobre si, pois somente existirá nos outros, somente os outros o controlarão. Procurarás refúgios para recorrer a mim, já que acreditará ter me perdido. Verdade eu te digo: isso será somente uma experiência, uma viagem teste.

Resolveu pedir-lo para lhe mostrar.
Era incrível o que vira. Todos criavam coisas para preencher espaços vazios que haviam dentro de si. Os sentimentos já não tinham razão de sê-los, pois misturavam-se de tal forma que não era possível identificá-los. Recorriam frequentemente a lugares construídos por suas próprias mãos para sentir algo, ter um sentimento que os agradavam. As diferentes formas de se obter esssa emoção os faziam lutar, retornar.

O incrível era que não sabiam, nem sequer, o motivo de serem (ou pelo qual existiam). Chocou-se ao ver que, mesmo estando no lugar em que havia fronteiras, criavam lugares em que não havia fronteiras. Alguns deles usados para controlar sentimentos alheios.

Perguntou a tudo o motivo pelo qual tantos queriam ir ao lugar que havia fronteiras.
A resposta foi epfânica:

Iam porque, mesmo tendo tantas confusões sentimentais, havia um sentimento, algo que, mesmo durando por instantes que pareciam não satisfazer suas necessidades, faziam-os ser e entender o que eram, faziam-lhes felizes, faziam querer ficar eternamente...

                                                                                                          ... no lugar em que havia fronteiras.
Borges Jr.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Eles causaram uma catástrofe.

Uma avó inicia a vida “inocente” de sua neta, emprestando-a, frequentemente,  ao patrão. Por infelicidade, essa neta inda não atingira todo o vigor...
 “ _ Faça tudo o que ele quiser”, enfatizou a velha.
 A menina sabia o que significava “ o que ele quiser”, ou pelo menos imaginava o que seria. Ela não tinha escolhas. Afinal, os adultos sabem o que fazem. Ela só conseguia observar o brilho nos olhos dele que confirmavam suas suspeitas. Conseguiu maquinalmente caminhar, hesitante seguiu para o interior da casa, habitada por pessoas bondosas, exceto aquele homem e aquela empregada.
Clara teve uma infância triste, uma adolescência obscura. Por conseqüência, possui hoje um perfil conhecido, e muito temido. Ela apenas não se preocupa com a vida das pessoas, com o que eles irão se tornar ou o que poderão perder ou ganhar. Hoje seu ego grita, implora. A garota loirinha, olhos claros, de semblante harmonioso, vive sem hesitar. Sabe que no olhar do homem se esconde aquilo que a fez, a formou. E que não se arrepende do que causa. O casal imperfeito se formou em sua mente. E isso está longe de ser uma boa lembrança.
_ Vem aqui, lembra quando eu era pequena e você pedia para eu pular?
_ Agora vem, vamos fazer o contrário.

Naquela noite o patrão morrera com uma faca no "pé da barriga".
Clara vingou-se. Não por tudo, mas por ...
...Alguma coisa, pensou, em seu novo país.

Mais que um estímulo. Emagrecer por dois.

Dia de rotina.

Leah entra em um super-mercado, observa tudo, faz o de costume. Depois de tantas voltas acompanhando sua tia, a tortura começa:

_ Leva alguma coisa, Leah.

_ Não tia, vou querer nada não...
_Ou melhor, vou levar esse Cheetos aqui.

E ela foi confiante. Era apenas um Cheetos. Um delicioso Cheetos.
Na fila alguém a surpreende:

_ Deus te xdxê uxum bxoxm pxartxo, querida.

_ Como senhora? Não entendi.

_Deus te dê um bom parto.

"Um bom parto". Aquela mensagem travou em sua mente. Segundos depois:

_ Ah, obrigada.

Mas eu não estou grávida, não grávida, pensou.

Não foi algo apenas inesperado. Leah era consciente de que estava um pouco acima do peso, mas aquilo foi desconfortável demais.

“abaixou os olhos, enrubescendo, e, toda confusa, toda medrosa, jurou .... que só uma caminhada não adiantaria." Hidro-ginástica, malhação, karatê. Preciso disso.

Respirou fundo, saiu da fila e avistou o corredor de onde viera. Era aquele caminho de volta.
Olhou mais uma vez para o Cheetos e o devolveu.

_ O que houve com o Cheetos, querida? Pergunta a tia curiosa.
_ Vou levar nada não tia. Passou a vontade.
_ Hum...

A senhora, a torturadora, que ainda estava na fila e ouvira aquele diálogo, pediu licença:

_ Desculpe, querida, mas você está gravida mesmo, não é?

Leah agora estava derrotada.

_ Sim, respondeu.

 Apenas não queria constranger aquela senhora que a constrangera assustadoramente.

A tia a encarou surpresa.
Para a sua felicidade, chegou a vez vez daquela senhorar ao caixa, que, por fim, gesticulou um "tchau".

De toda aquela quebra de rotina, Leah saiu dali com três certezas:

_ Preciso de um companheiro: um par de tênis.

_ Preciso de um destino: a calçada do Max atacado.

_ Preciso, mudar.